Conheça mais sobre a riqueza e sabedoria de Mafalda

Essa menina, que encantou e até hoje encanta a todos por sua sagacidade, irreverência e outros predicados e que neste ano completa 53 anos, chegou ao mundo sem estardalhaço — em três tímidas tiras publicadas no início de 1964 no suplemento humorístico Gregorio da revista literária Leoplán. Sua estreia oficial, entretanto, se daria somente em 29 de setembro de 1964, quando passou a estrelar, inicialmente apenas com seu Papá Tomás, um cartum fixo da revista semanal Primera Plana. No mesmo ano, surge sua Mamá Raquel, e no início de 1965 o amigo Felipe ganha forma.

Com o passar do tempo, Joaquín Salvador Lavado, ou, simplesmente, Quino, seu criador, foi acrescentando personagens às historietas, dentre os quais merecem destaque os amigos de Mafalda — Filipe, Manolito, Susanita, Miguel ‘Miguelitto’ Pitti e Liberdade – e seu irmão Guille ‘Gui’.

Mafalda já foi traduzida para mais de trinta idiomas. Em 1969, seu criador, Quino e sua criação ganharam notoriedade internacional com a publicação na Europa de Mafalda, a Rebelde, a primeira edição italiana de Mafalda, com prefácio de ninguém menos que Umberto Eco. Nele, o escritor, filósofo, linguista e tradutor italiano definiu a personagem como “uma heroína zangada, que não aceita o mundo como ele é, que reivindica seu direito de continuar a ser uma menina e se recusa a assumir um universo corrompido pelos pais”; afirmou ser importante ler as tiras de Mafalda para entender a Argentina, mas ressaltou o caráter universal das inquietudes manifestadas por ela e seus amigos.

Quino parou de produzir e publicar as tirinhas de Mafalda em 1973. Depois disso, o cartunista ainda usou a protagonista das histórias que lhe deram fama mundial algumas poucas vezes para promover campanhas em prol dos direitos humanos, a mais notória delas a Convenção dos Direitos Humanos da Criança de 1976, da Unicef.

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MAFALDA E SEU UNIVERSO

Quino valeu-se, primeiramente, de uma criança de uma típica família de classe média para expor suas ideias sobre a realidade de seu tempo. O pai, funcionário de uma companhia de seguros, adora cultivar plantas em seu apartamento e sempre entra em crise quando reflete sobre sua idade. A mãe, típica dona de casa, não completou os estudos e, por isso, é vista como “medíocre” por Mafalda.

Mafalda, com humor, critica a postura de seus pais perante a sociedade, preocupa-se com a humanidade, questiona os problemas políticos, de sexo, e até científicos que atingem sua alma infantil, ao mesmo tempo em que reflete os conflitos e angústias que as pessoas de seu tempo enfrentam, sobretudo com a progressiva mudança de costumes e a já incipiente introdução da tecnologia no cotidiano.

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POR FIM…

As tiras de Mafalda apresentam uma visão límpida da sociedade argentina da época em que foram criadas, questionando o status quo por meio dos olhos de uma menina de 6 anos sem soberba, que adora os Beatles e odeia sopa, e é crítica ferrenha de valores quase patriarcais, colonialistas e antipovo da elite de seu país.

No entanto, o que levou Mafalda a sobreviver ao tempo não foi seu discurso político, mas sim seu caráter humano, por mostrar sentimentos e questões sociais ainda presentes no âmago das pessoas e que demandam reflexão – o que na visão de seu criador, que se autodenomina um pessimista, deveria ser motivo de angústia e não de celebração. Enquanto alguns quadrinistas se distinguem pela sofisticação do traço, Quino tomou a via oposta. Os temas são os cotidianos: as guerras mundiais, o engarrafamento no trânsito, o alto custo de vida, as férias na praia, o aprendizado escolar”. A riqueza de Mafalda, com certeza, está nas ideias expostas. Não, por acaso, Quino é citado em suas biografias como cartunista, desenhista e pensador.

Mafalda ganhou corações e mentes em todo planeta. Seu alcance é comparável apenas ao de Charlie Brown e Snoopy, da série Minduim [Peanuts] do cartunista norte-americano Charles Schulz, nos anos 1950. A diferença reside em que Mafalda, uma típica argentininha, traz em seu bojo as características do humor latinoamericano, que ri de si mesmo e ridiculariza os que querem determinar todas as regras de vida, sem maiores questionamentos. Esse humor refinado, abraçado por milhares de crianças, jovens e adultos de todo o mundo, com toda certeza, ainda continuará a entreter muitas das próximas gerações.



Para todos aqueles que desejam pintar, esculpir, desenhar, escrever o seu próprio caminho para a felicidade.