Matthieu Ricard: Conheça o homem que deixou a carreira de cientista para se tornar monge
Buddhist monk, Matthieu Ricard attends the French employers' union MEDEF annual meeting in Jouy en Josas, outside Paris, Wednesday, Aug. 28, 2013. (AP Photo/Christophe Ena)

Por Andréa Martinell

Com 26 anos, o francês Matthieu Ricard decidiu deixar a carreira em biologia molecular para se dedicar à vida de contemplação como monge budista e desvendar o poder que a meditação tem na mente humana. Assim, uniu o conhecimento científico a uma vida em busca de paz interior – e compaixão. Atualmente, aos 69 anos de idade, ele é um dos monges mais célebres do Himalaia, além de ser tradutor de Dalai Lama para o francês.

Em sua concepção, o budismo não é uma religião mas sim “uma ciência da mente”. Desde que se dedicou à vida como monge, Matthieu sonhava em mostrar através da ciência capacidades ainda não desvendadas da meditação, por exemplo, alterar o cérebro humano e melhorar a felicidade das pessoas da mesma forma que levantar peso afeta os músculos do corpo. E ele conseguiu provar.

Matthieu se submeteu a uma pesquisa da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, que comprovou que o monge budista pode ser considerado o “homem mais feliz do mundo”. Entre 12 voluntários que tinham mais de 10 mil horas de práticas meditativas, o grupo de pesquisadores constatou que o cérebro dele produz um nível de ondas gama nunca antes relatado no campo da neurociência.

Mas Matthieu reduz este título e não confirma que seus resultados foram os melhores:

“Nunca teria me autoproclamado como o homem mais feliz do mundo. Isso começou com um documentário da televisão austríaca. Em seguida, o jornal britânico ‘The Independent’ publicou uma reportagem anunciando que eu era a pessoa mais feliz do mundo. A importância da pesquisa foi provar que a mente é maleável. As conexões no cérebro não são fixas. Com esforço e tempo, elas podem ser modificadas, assim como a maneira como interpretamos o mundo”, disse à Galileu.

O estudo teve início em 2009, quando o neurocientista Richard Davidson conectou cerca de 256 sensores no cérebro do monge e o fez enfrentar uma bateria de eletroencefalogramas e tomografias cerebrais – assim como os outros voluntários.

Em ambos, os resultados comprovaram que o grupo apresentava um alto nível de ondas gama (de “emoções positivas”) no córtex pré-frontal esquerdo, local associado com a felicidade e a alegria. No lado direito, que lida com ansiedades e frustrações, as ondas eram inexistentes.

O homem mais feliz do mundo?

Os pesquisadores tabelaram a felicidade em uma escala de 0,3 (muito infeliz) a -0,3 (muito feliz), de acordo com a movimentação, ou não, das regiões do cérebro que ativam as emoções positivas ou negativas. . Três horas dentro de uma máquina de ressonância magnética e 256 sensores monitorando partes do cérebro resultaram em uma constatação surpreendente e inovadora: o índice obtido pelo monge foi -0,45.

Eis a explicação:

Quando Matthieu meditou em compaixão, o cérebro dele produziu níveis de ondas gama ligadas à consciência, atenção, aprendizado e memória que nunca haviam sido relatados na neurociência. A exploração do cérebro de Ricard revelou que, graças à meditação, o órgão tem uma capacidade anormal de sentir felicidade e propensão reduzida para a negatividade.

A tese que ele mesmo defendia, na prática, foi comprovada pela ciência.

O teste que provou a ‘felicidade’ de Matthieu

A notícia fez com que os jornais europeus colocassem um apelido em Matthieu, o de o “homem mais feliz do mundo”, e dali para virar best-seller, com o relato de suas experiências em linguagem sempre fácil, acessível e plena de lugares-comuns inteligentes, foi um pulo.

Mas ele não é o único que compatilha deste título: ele é com o nepalês Yongey Mingyur Rinpoche, que participou das mesmas pesquisas que Ricard, e também alcançou elevados índices de atividade das ondas gama e é grande amigo de Matthieu Ricard — também é autor do livro A Alegria de Viver.

Altruísmo pode mudar o mundo

Neste mês, ele está no Brasil para lançar seu livro novo intitulado A Revolução Altruísta (Palas Athena), em que exemplifica como uma sociedade com pessoas mais compassivas e altruístas pode ajudar até a frear o aquecimento global e gerar mais qualidade nas relações pessoais, construindo um planeta mais harmônico para todos, sem distinção.

Filho do filósofo Jean-François Revel e da pintora Yahne Le Toumelin, o monge nasceu em um berço rodeado de intelectualidade é autor de vários livros. Dois deles estão disponíveis em português: Felicidade – A Prática do Bem- Estar, e A Fortaleza de Neve. Ele também é fotógrafo e tem vários ensaios publicados. Atualmente mora no monastério Shechen, no bairro tibetano Bouda, em Katmandu, no Nepal.

Em uma palestra recente no TED, ele explica como a humanidade se distancia da felicidade e dá a receita para buscarmos um estado pleno de bem-estar: controlar a mente.

Acesse o link abaixo:

https://www.ted.com/talks/matthieu_ricard_on_the_habits_of_happiness?language=pt-br

Em um outro TED Talk, mais recente, ele fala sobre o altruísmo – e em como ele é capaz de mudar o mundo. Assista:

https://www.ted.com/talks/matthieu_ricard_how_to_let_altruism_be_your_guide?language=pt-br

 



Para todos aqueles que desejam pintar, esculpir, desenhar, escrever o seu próprio caminho para a felicidade.