O poder transformador da resiliência

Perdas, traumas emocionais, emoções e sentimentos marcantes. Esses e outros momentos, muitas vezes, interferem negativamente na vida de milhares de pessoas. Como superar os problemas pessoais? Como se tornar mais forte e aprender com as dificuldades? Para alguns, problemas e desafios são pequenas barreiras, mas para outras pessoas podem se tornar gigantescas muralhas. E é aí que entra a resiliência, ou seja, a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, de superar obstáculos, de transformar traumas em aprendizados ou de resistir à pressão de situações adversas sem entrar em surto psicológico. “A resiliência é importante para superar os desafios. É preciso transformar as dificuldades da vida em aprendizados. A partir disso, multiplicar para outras pessoas, para que não precisem passar pela mesma situação”, afirma a psicóloga do Hospital Vita Luciane Bertonelllo.

O olhar distante da advogada Marlene Dias de Carvalho, 62 anos, remete a São Luís do Maranhão em 1987. Aos 40 anos, com uma carreira bem-sucedida na Procuradoria Pública e uma condição financeira estável, ela descobriu estar grávida pela terceira vez. A diferença é que a Mayara veio ao mundo com Síndrome de Down. A notícia foi dada pelo médico: “ele olhou para mim e disse que ela não viveria mais do que 12 anos”, relembra Marlene.

Os meses seguintes foram de luto, dor e muitos questionamentos para Marlene. “Você desaparece, cai em um buraco negro quando recebe uma notícia dessas. No meu caso, foi um pouco pior ainda. Em São Luís do Maranhão, há 28 anos, não se falava na síndrome. Eu não sabia o que era isso”, conta a hoje advogada. “Cheguei a duvidar que era minha filha e comecei a me questionar: o que eu fiz de errado?”, recorda.

Fim do luto

Os sentimentos de Marlene fazem parte da superação do luto e de por em prática a resiliência. “Geralmente há a negação, a raiva, a negociação, a depressão e, por último, a aceitação. Nesse estágio, a pessoa começa a ver que pode tirar uma flor de uma pedra”, explica Yara Braguinia, psicóloga da clínica psiquiátrica Única.

Depois desse período, a advogada decidiu ir à luta e saber tudo sobre Síndrome de Down. Foi quando percebeu que o Maranhão havia ficado pequeno demais para ela, o marido e suas três filhas, em especial Mayara. “Decidi sair da minha terra e vir para Curitiba para oferecer todas as oportunidades para que ela pudesse se desenvolver. Hoje, ela está feliz, trabalha, namora. Tem uma vida normal”, comemora Marlene, que atualmente é presidente da Associação Reviver Down, uma entidade sem fins lucrativos que reúne pais, pessoas com Síndrome de Down e compartilha sua experiência com pais de portadores de deficiência.

Outro exemplo de prática da resiliência é a história do engenheiro Rodolfo Henrique Fischer, 52 anos, que perdeu a filha Anna Laura Petlik Fischer em um acidente e renasceu após a tragédia. “Desse desespero, eu e minha esposa (Claudia) decidimos fazer várias homenagens a ela. Em Israel, buscamos conforto espiritual e surgiu a ideia de criar parques para crianças com mobilidade reduzida e/ou alterações sensoriais e intelectuais”. Segundo ele, o processo de lidar com a perda se tornou menos difícil a partir do momento que deu-se um sentido à perda de Anna. E a dor diminui com a criação de ONGS e ajuda a outras pessoas? Para Luciane Bertoncello, sim. “A sensação de ajudar ao próximo é de prazer e isso acaba diminuindo a dor e ajudando na superação do acontecimento, proporcionando conforto e vontade de viver”, explica. “É preciso lembrar que uma batalha foi perdida, mas a vida continua”, complementa Yara.

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A advogada Marlene Dias de Carvalho, 62 anos, com a filha Mayara, 28 anos: a mãe, que é presidente da Associação Reviver Down, usa sua experiência de vida para ajudar outras famílias sem informações sobre a síndrome. Foto: Arquivo pessoal

Renascimento

A psicóloga Verônica Stasiak Bernarczuk, 28 anos, encarou com resiliência o diagnóstico de fibrose cística e buscou um verdadeiro renascimento. Depois de muitas interações e de ter retirado duas partes do pulmão direito, aos 23 anos, finalmente, ela descobriu que sofria de uma doença genética, ainda sem cura, que desencadeia problemas respiratórios e digestivos. Foi então que decidiu criar o Instituto Unidos pela Vida, com o objetivo de divulgar a doença e dar apoio a quem recebe o diagnóstico. “É a forma que eu encontrei de devolver para o mundo a chance que eu estive de estar viva. Foi a maneira como eu consegui associar essas experiências ruins e transformar de, fato, um limão em uma limonada”, diz Verônica.

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A psicóloga Verônica Stasiak Bernarczuk, 28 anos, encarou com resiliência o diagnóstico de fibrose cística: criou o Instituto Unidos pela Vida, com o objetivo de divulgar a doença e dar apoio a quem recebe o diagnóstico. Fernando Zequinão / Gazeta do Povo.

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O casal Rodolfo Henrique Fischer, 52 anos, Claudia Fischer, 36 anos, construiu parques para crianças com necessidades especiais em homenagem à filha Ana Laura, falecida (ao centro, na foto). Arquivo familiar.



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