Como o livro “Cem Anos de Solidão” redefiniu a América Latina como um todo

Cem Anos de Solidão é uma obra do escritor colombiano Gabriel García Márquez, Prêmio Nobel da Literatura em 1982, e é atualmente considerada uma das obras mais importantes da literatura latino-americana. Essa obra tem a peculiaridade de ser umas das mais lidas e traduzidas de todo o mundo.

O continente, obviamente, não era um lugar novo quando Gabriel García Márquez escreveu sua obra-prima: os escritores conhecidos como “cronistas das Índias” tinham como missão descrever a terra durante os séculos 15 e 16 e nomeavam coisas desconhecidas a eles conforme as viam.

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Durante a segunda metade do século 20, a América Latina passou por um período conturbado. Alguns países – como Chile, Colômbia e México – estavam lidando com instabilidades, ditaduras e violência política. Isso levou a mudanças abruptas e confusas em sua maioria, incluindo a Revolução Cubana, liderada por Fidel Castro e Ernesto Che Guevara.

Quando García Márquez estava nos primeiros estágios de sua imensa saga, ele ficou fascinado com a mudança que ocorreu em Cuba. O que mais o impressionou foi a verdadeira possibilidade de uma nova ordem para países nesse hemisfério, longe da pressão e das imposições dos Estados Unidos. Muitos intelectuais – Mario Vargas Llosa, Jean-Paul Sartre, Albert Camus e Simone de Beauvoir, entre outros – compartilhavam o entusiasmo de García Márquez.

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Porém, nos anos seguintes, a maioria deles ficou desapontada e se distanciou do modelo cubano. Mas é inegável que a revolução teve um grande impacto no tom de Cem Anos de Solidão: ela deu a García Márquez esperança no destino da América Latina.

García Márquez não era nem um historiador nem um sociólogo. Ele era um contador de histórias nato. Eu o via como um prisma. Era capaz de pegar uma quantidade tremenda de informação e transformá-la em uma nova mitologia. Essa é a especialidade de Cem Anos de Solidão: ele reúne diferentes fontes para chegar a um nascimento alternativo e hiperbólico da cultura latinoamericana. E, ao fazer isso, ele reinterpretou sua natureza.

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Cem Anos de Solidão é uma alegoria poderosa à identidade da América Latina. A história, que transcorre no período de um século, explora muitos dos assuntos predominantes da história perturbadora da região: caudilhismo (fenômeno político que ocorreu na América Latina após o processo de independência caracterizado pelo agrupamento de uma comunidade em torno do caudilho), machismo, rebeliões, pragas e violência política.

Mas, apesar desse tecido social denso, García Márquez o desvela com humor e uma linguagem poética refinada. E, por trás dessa espécie de afresco social de conflitos, ele foi capaz de ver a beleza que há em tudo isso. Como ele disse em seu discurso ao receber o Prêmio Nobel de Literatura: “Apesar disso, da opressão, do saque e abandono, respondemos com vida. Nem enchentes nem pragas, nem fome nem cataclismos, nem mesmo as eternas guerras, séculos após séculos, foram capazes de subjugar a persistente vantagem que a vida tem sobre a morte.”

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Esse retrato pode parecer uma caricatura, mas o realismo mágico é construído sobre o exagero. O mundo que García Márquez criou é um espelho de aumento no qual a América Latina pode ver suas falhas e suas virtudes. Como ele disse em uma entrevista ao jornal The New York Times em 1988: “Eu acho que meus livros têm impacto político na América Latina porque eles ajudam a criar uma identidade latinoamericana, eles ajudam os latinoamericanos a terem uma consciência maior de sua cultura”. E é nessa consciência em que está seu poder.

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Fonte: BBC

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Gabriel tem 24 anos, mora em Belo Horizonte e trabalha com redação desde 2017. De lá pra cá, já escreveu em blogs de astronomia, mídia positiva, direito, viagens, animais e até moda, com mais de 10 mil textos assinados até aqui.