Crítica de “O Menino Que Descobriu o Vento”, de Chiwetel Ejiofor

Por site Devo tudo ao cinema

O Menino Que Descobriu o Vento (The Boy Who Harnessed The Wind -2019)

William Kamkwamba (Maxwell Simba) é um garoto de 13 anos que sai da escola que ama quando sua família não pode mais pagar pelos custos. Voltando em segredo para a biblioteca da escola, ele encontra um caminho, usando partes da bicicleta pertencente ao seu pai Trywell (Chiwetel Ejiofor), para construir uma bobina eólica que, em seguida, salva sua aldeia da fome.

O cenário é apocalíptico, um líder político populista que mantém seu próprio povo faminto na miséria controlada com fins ditatoriais, reagindo com extrema truculência diante de qualquer voz que ouse se levantar contra seu governo. Você pode pensar que estou escrevendo sobre o regime atual de Maduro na Venezuela, mas a baixeza moral encabrestada disfarçada de assistencialismo não é novidade, a administração da escassez é parte fundamental do processo existencialmente deteriorante de todos os sistemas que são contrários à alternância democrática de poder, já que é mais difícil de se controlar indivíduos com valores firmes e que estão física e mentalmente saudáveis.

Na trama desta promissora estreia de Chiwetel Ejiofor na direção, somos levados à um vilarejo de Malawi, no início dos anos 2000, para conhecer a incrível história real do pequeno William Kamkwamba, fruto de um lar forjado pela ousadia dos pais, que trilharam o caminho tortuoso e imprevisível das colheitas. Só que, apesar de valorizar os esforços de todos à sua volta, o menino possui uma fome insaciável por conhecimento. A resposta para as mazelas ele encontra nas páginas dos livros. Ele fica entristecido por não conseguir estudar à noite, por falta de eletricidade. A sua maior alegria é receber do pai um traje limpo e novo para utilizar na escola. Ele, por suas atitudes, ensina que o argumento da falta de oportunidades é a desculpa que o incompetente escolhe para justificar sua preguiça intelectual.

Ao contrário do que a narrativa socialista prega, incentivando o conflito entre semelhantes, o clássico “dividir para conquistar”, reduzindo as minorias à estereótipos rasteiros, estimulando nelas o vitimismo e, por conseguinte, a desesperada necessidade da mão salvadora estatal, moeda de troca para a perpetuação política, não há pobreza que impeça alguém de tentar (e, com esforço, conseguir) ser melhor, apenas a pobreza de espírito, que atinge todas as classes sociais. A união da comunidade em tempos de crise é o que apavora e enfraquece um ditador. William busca no lixão as ferramentas para construir a ponte que o conduzirá para um futuro minimamente esperançoso, mas o garoto não pensa apenas em seu benefício, ele arrisca tudo para garantir que seu povo sobreviva.

Se a figura de autoridade educacional expulsa ele da sala de aula por falta de pagamento, o garoto não pensa duas vezes, dá um jeito de se infiltrar naquele recinto, absorvendo o máximo possível de informação. Como ele afirma para o pai, durante uma acalorada discussão: “Há coisas que eu sei e você não sabe”. E cabe ao mais velho engolir o orgulho e compreender que a escolha do filho pela educação naquelas circunstâncias é intensamente mais corajosa do que tudo que ele já fez na vida. O homem, com o suor do trabalho braçal, tornou possível para o menino o ensinamento acadêmico, mas foi ele quem recebeu a lição mais valiosa.

“O Menino Que Descobriu o Vento” entrega atuações impecáveis de todo o elenco, alta dose de emoção (sem forçar no melodrama), uma fotografia elegante do experiente Dick Pope, soluções narrativas que evidenciam a mão segura de seu diretor, além de um frescor revigorante na forma como trabalha a linda mensagem de resiliência, em suma, desde já, um dos melhores filmes do ano.



Para todos aqueles que desejam pintar, esculpir, desenhar, escrever o seu próprio caminho para a felicidade.