Da cadeira de balanço posicionada propositalmente à porta que dá para a varanda, eu assistia ao temporal que se formava e admirava a natureza imperiosa que se levantava no horizonte.
As luzes apagadas não faziam falta. O céu era clareado por luzes rápidas e estreitas. O ar fresco insinuava que este deveria ser um momento perfeito para trazer à tona alguma reflexão. Mas eu não cedi a este impulso e renunciei. Preferi apenas contemplar, sem querer tomar nenhuma outra decisão.
O corre-corre dos dias, rápidos feito raios, quase que nos obriga a tirar conclusões, elaborar perguntas e encontrar respostas em tempo integral. Se não nos opusermos e lutarmos, não nos sobra tempo para mais nada, além dessa frenética ação x reação.
Ficar só, e apenas ficar, sem tentar resolver os problemas do mundo é uma opção de poucos. A maioria de nós entende apenas o acelerar.
Perdemos nosso sossego em algum lugar por aí. Tornamo-nos cobradores de nós mesmos e temos pagado alto preço por isso.
As noites que passamos insones, a insegurança que nos atormenta, a tristeza sem motivo aparente que nos assola… são frutos azedos, cultivados sobre nossas pressas, nessa correria insana que se tornou a vida moderna.
O temido e tão falado mal do século é o reflexo das nossas inquietudes. Nasce da nossa agitação e esparrama suas raízes sufocantes dentro de nós.
O pensamento acelerado e a vontade de conquistarmos muitas coisas ao mesmo tempo são inimigos da vida satisfeita. Manter a calma e a serenidade tem sido tão desafiante quanto conquistar o Everest.
Quase não nos permitimos mais viver, pura e simplesmente, sem sobrecargas e pressões abusivas. Ilógica parece ser a decisão, que deveria ser garantida a todos, de sentar numa sacada qualquer e se deixar ficar, sem que o relógio da consciência inquieta soe seu tic-tac apressador.
Nosso comportamento tem feito parecer que é absurdo parar um pouco. Que não nos é permitido desacelerar e não tomar decisão nenhuma, nem pensar nas contas a pagar nem no cardápio de amanhã. Pois não é absurdo nenhum, retomemos este nosso direito. E descansemos, sem culpa nem obrigação de pular com sobressalto cinco minutos depois.
Descanse, feche os olhos, seja humano; não tente ser uma máquina, respeite seus limites. Pise no freio e respire fundo, recobre o fôlego perdido. Sem cobranças exageradas, sem esse desatino que nos esgota e nos adoece.
Desacelere. Você precisa disso mais do que imagina. Mas faça questão, porque ir mais devagar exige determinação e desacelerar um pouco, apesar de difícil, é uma sábia decisão.
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